Com o mundo na mão, sem ter onde segurar

Vivia entre canções e filmes. Vivia os amores das séries, as emoções dos samba-canções, a adrenalina da ficção. Acreditava ser uma boa pessoa. Acreditava ser inteligente, ser agradável e boa companhia. Mas um dia seu mundo caiu, e ali, no meio dos escombros, resistiu um pedestal. Ali, no meio das ruínas, ainda restava uma paixão que sustentou a reconstrução do seu universo. Diferente, sem nada do que havia antes. Assustador, todo novo, mas reconstruído. Não durou muito. Um novo capricho dos deuses e lá estava tudo por terra. Dessa vez, sem pedestal, sem apoio, sem muleta. De cara na poeira e nas cinzas dos restos de sua vida, aprendeu que ser só também é ser livre. Que o chão devolve para cima a força do seu tombo. E reconstruiu novamente, com suas mãos, de maneira solitária, sem o cimento da promessa, sem a mão do outro como ajuda. Não dá para dizer que falta experiência em retomar do zero, em ser a fênix da poeira. Apesar disso, é fato que não é porque tem uma cicatriz embaixo que o corte vá doer menos. Dor é dor. É sempre original. Hoje, ao ouvir o estalar dos alicerces de sua vida, ao sentir o tremor de seu chão, sente tensos os músculos, prontos para abraçarem a si mesmos e protegerem-se de mal maior. Prontos para sentirem o baque da queda. Apesar disso, dessa vez, se o mundo cair, já vai dar para levitar.

Um comentário:

.:.Isabel.:. disse...

Tanto nessas letras...

Lembrei do verso de uma canção: "nos sabermos sós, seme starmos sós".
Tirada do contexto da letra inteira, essa frase abre espaço para muitas interpretações - inclusive a que diria que nunca etsamos sós, que há sempre uma enorme rede de proteção de amigos encarnados ou não, nos ajudando e nos estimulando a ter forças para tocar o barco, para seguir em frente...

Amo você e será adorável ter-te como filho na vida ideal.

Beijos de amora,
Bebel.