Vivendo e aprendendo a jogar

Trabalhar lidando diretamente com (muitas)pessoas nos ensina coisas que muito graduado em psicologia nem suspeita, sobre o comportamento e re-ações do outro. Dia 08/03 trabalhei no MAM, no que seria o último dia da exposição do Vik Muniz (que na verdade foi prorrogada por mais 2 semanas), com um público estimado de 5mil pessoas a cada fim de semana.

Primeiro eu gosto de observar como as pessoas se comportam de maneira individualista, mas fazendo exatamente o mesmo que todo o restante está a fazer. Como todos compram o mesmo livro, já mantenho dezenas dentro de sacolas individuais para evitar perder muito tempo. A maioria das pessoas quando pede o livro e vê que o mesmo já está embalado faz uma expressão de supresa e um comentário como "nossa, já está prontinho". Ou então eu digo que já tenho embalado e a pessoa pergunta "desse aqui mesmo?"

Acho que as pessoas se recusam a acreditar que fazem parte do rebanho. Que são uma grande massa que repete as mesmas opiniões e atitudes, que repete todo o tempo comportamento/falas/ações arquetípicas, mas se recusa a despir-se da fantasia da individualidade, tão arraigada em nossa educação.

Algumas pessoas me perguntaram, no meio da tarde: "nossa, estã tão cheio, tem ficado o dia todo assim?" Eu não posso responder o que penso, então respondo apenas que sim, mas a verdade é que, apesar do espanto da maioria, fica cheio depois das 15h porque a maioria faz as mesmas coisas nos mesmos horários: almoço de domingo - descanso - programa com a família.

Mas uma senhora me surpreendeu ontem. Pela forma explícita que expôs sua vaidade, sua visão egocêntrica das coisas. Ela veio até mim e perguntou sobre o restaurante do Museu. A despeito de não ser o balcão de informações oficial, estou acostumadíssimo a dar toda sorte de informações turísticas, como é comum em qualquer lugar assim, ou em bancas de jornais, verdadeiros oásis quando se busca uma determinada e mal-sinalizada rua. Mas, voltando à carga: informei que o restaurante só funciona de segunda à sexta, mas que o café estava aberto. Ao ouvir isso, ela me respondeu

"Mas eu já vi gente entrando lá aos sábados. Tem alguém que possa me dar uma informação melhor?"

Eu apenas sorri. Sem responder, e ela se afastou. Eu não tinha o que dizer, mesmo. Eu estava ali, compadecido da angústia que havia provocado. Aquela senhora estava indignada, pois não ouviu a resposta que desejava ouvir, e isso a angustiava. Ela foi até lá, na esperança de ouvir uma resposta "melhor".

Quantas vezes não nos flagramos assim, angustiados pela simples razão do mundo não ser daquele jeito? Poucas. Bem poucas. Na maioria das vezes, encaramos nossa indignação como legítima e, se houver espaço, até fazemos alguma birra pelo mundo não girar em torno dos nossos umbigos.

Nossa pretensão por exclusividade, por ver o filme que ninguém viu, conhecer o "lugarzinho" (falar de lugarzinhos rende...) que ninguém conhece, assistir aquele show que nem-foi divulgado e outras bobagens do gênero é tão grande que sofremos ao nos perceber apenas mais um, apenas um número entre milhões. Nossa vontade de ser únicos resvala na verdade de que quando todos são especiais, ninguém é.

Nenhum comentário: