História de uma foto - Napoli

Napoli by Luiz de Aquino
Napoli, a photo by Luiz de Aquino on Flickr.

Em 08/02/2008, eu estava em Nápoles, região da Campania, Itália, após participar de um seminário de livreiros em Veneza. Após uma tentativa de ir até Pompéia durante a manhã, frustrada por uma greve dos funcionários da ferrovia estatal italiana, peguei um ônibus turístico, daqueles de dois andares, para conhecer o básico de Nápoles. Fazia bastante frio, apesar do sol e do dia claro, então eu era o único passageiro a se aventurar na parte superior do ônibus. Os habitantes de Nápoles eram os primeiros até então que eu via acenarem e sorrirem para os turistas que, máquinas fotográficas em punho, pareciam destaques naquele carro alegórico vermelho que era o ônibus. Já no fim do passeio, após ter visto muitos lugares interessantes e lindíssimos, passávamos pela orla, próximo ao Aquário da cidade, e eu observava essas rochas brancas que protegem as calçadas da violência do mar. Câmera em punho, eu fazia fotografias a esmo, como só um turista com muitos Gigabytes em seu cartão de memória sabe fazer. Certo momento, o ônibus parou em um semáforo, e eu reparei esses rapazes que, sentados nas pedras e abraçados, constrastavam com o reflexo do sol na água e com a alvura das pedras. O rapaz de gorro cinza olhou para o ônibus e para mim e fez um sinal de "fotografia" com as mãos para mim, e em seguida apontou para eles mesmos. A idéia dele me pareceu só uma atitude simpática, ou mesmo debochada, para um turista que batia fotos desenfreadamente. Fiz o que ele sugeria, e apontei a máquina, ajustei o zoom para aproximá-los e disparei. Partindo o ônibus, só tive tempo para um breve aceno e parti, em direção ao Castel dell'Uovo, belo castelo fortificado, praticamente dentro d'água.


Il 08/02/2008, ero a Napoli, regione Campania, in Italia, dopo aver frequentato un seminario librai a Venezia. Dopo un tentativo di andare a Pompei al mattino, frustrato da uno sciopero lavoratori delle Ferrovie dello Stato, ho preso un tour, in un autobus turistico con due livelli, per vedere un po' di Napoli. Era stato molto freddo nonostante il sole e la giornata limpida, così sono stato l'unico passeggero che si avventurava al piano superiore del bus. La gente di Napoli sono stati la prima che avevo visto fino adallora salutare e sorrire al turista, cue, con le macchine fotografiche in mano, sembravano pagliacci colorati in quel bus rosso. Quasi alla fine del tour, dopo aver visto molti luoghi interessanti e belli, siamo stati vicino all'Acquario della città, e ho visto quelle rocce bianche che proteggono i marciapiedi della violenza del mare. Macchina fotografica in mano, stavo facendo le foto a caso, come solo un turista con molti gigabyte di memoria su scheda può fare. Certo punto, l'autobus si fermò ad un semaforo e ho vissuto questi ragazzi abbracciati, seduti nelle rocce, in contrasto con il riflesso del sole sull'acqua e la bianchezza delle pietre. Il ragazzo con il cappello grigio mi guardò e fece un segno di "quadro" con le mani e poi ha di se stessi. La sua idea mi sembrava solo un atteggiamento amichevole, o addirittura beffardo, per un turista che batteva all'impazzata foto. Ho fatto come ha suggerito, e indicò la macchina, regolato lo zoom per spostarli e sparò. Ho solo avuto il tempo per un breve cenno del capo, e l'autobus e si avviò verso il Castel dell'Uovo, bel castello fortificato, quasi sotto l'acqua.

78 direitos civis negados

Portugal aprovou a união civil para os homosexuais. O presidente lusitano prefere não chamar de casamento para não ferir viscissitudes religiosas, mas o que vale, os direitos, foram equiparados. Torço que a decisão portuguesa influencie as mentes dos legisladores tupiniquins, e em breve vejamos nosso país mais justo e igualitário.

Por enquanto, aqui em Pindorama continuam os gays a terem 78 direitos civis negados. E um monte de gente fingindo que "contrato em cartório já está bom".

A lista dos direitos negados a quem constrói uma relação estável com um parceiro do mesmo sexo foi feita pelo grupo de defesa da cidadania LGBT Leões do Norte, um dos mais atuantes de Pernambuco. A lista é de direitos nacionais, não levando em conta conquistas de estados da federação isoladamente. 

Falta muito. Muito, afinal, os gays, no Brasil:

01. Não podem se casar.

02. Não têm reconhecida a união estável.

03. Não adotam sobrenome do parceiro.

04. Não podem somar renda para aprovar financiamentos.

05. Não somam renda para alugar imóvel.

06. Não inscrevem parceiro como dependente de servidor público.

07. Não podem incluir parceiros como dependentes no plano de saúde.

08. Não participam de programas do Estado vinculados à família.

09. Não inscrevem parceiros como dependentes da previdência.

10. Não podem acompanhar o parceiro servidor público transferido.

11. Não têm a impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside.

12. Não têm garantia de pensão alimentícia em caso de separação.

13. Não têm garantia à metade dos bens em caso de separação.

14. Não podem assumir a guarda do filho do cônjuge.

15. Não adotam filhos em conjunto.

16. Não podem adotar o filho da parceira.

17. Não têm licença-maternidade para nascimento de filho da parceira.

18. Não têm licença maternidade ou paternidade se o parceiro adota um filho.

19. Não recebem abono-família.

20. Não têm licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro.

21. Não recebem auxílio-funeral.

22. Não podem ser inventariantes do parceiro falecido.

23. Não têm direito à herança.

24. Não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre.

25. Não têm usufruto dos bens do parceiro.

26. Não podem alegar dano moral se o parceiro for vítima de um crime.

27. Não têm direito à visita íntima na prisão.

28. Não acompanham a parceira no parto.

29. Não podem autorizar cirurgia de risco.

30. Não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz.

31. Não podem declarar o parceiro como dependente do Imposto de Renda (IR).

32. Não fazem declaração conjunta do IR.

33. Não abatem do IR gastos médicos e educacionais do parceiro.

34. Não podem deduzir no IR o imposto pago em nome do parceiro.

35. Não dividem no IR os rendimentos recebidos em comum pelos parceiros.

36. Não são reconhecidos como entidade familiar, mas sim como sócios.

37. Não têm suas ações legais julgadas pelas varas de família.

38. Não têm direito real de habitação, decorrente da união (art.1831 CC).

39. Não têm direito de converter união estável em casamento.

40. Não têm direito a exercer a administração da família quando do desaparecimento do companheiro (art.1570 CC).

41. Não têm direito à indispensabilidade do consentimento quando da alienação ou gravar de ônus reais bens imóveis ou alienar direitos reais (art.235 CC).

42. Não têm direito a formal dissolução da sociedade conjugal, resguardada pela lei.

43. Não têm direito a exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos na hipótese do companheiro falecido (art.12, Par. Único, CC).

44. Não têm direito a proibir a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem do companheiro falecido ou ausente (art.20 CC).

45. Não têm direito a posse do bem do companheiro ausente (art.30, par. 2º CC).

46. Não têm direito a deixar de correr prazo de prescrição durante a união (art,197, I, CC).

47. Não têm direito a anular a doação do companheiro adúltero a seu cúmplice (art.550, CC).

48. Não têm direito a revogar a doação, por ingratidão, quando o companheiro for o ofendido (art.558, CC).

49. Não têm direito a proteção legal que determina que o companheiro deve declarar interessa na preservação de sua vida, na hipótese de seguro de vida (art.790, parág. Único).

50. Não têm direito a figurar como beneficiário do prêmio do seguro na falta de indicação de beneficiário (art.792, CC).

51. Não têm direito de incluir o companheiro nas necessidades de sua família para exercício do direito de uso da coisa e perceber os seus frutos (art.1412, par. 2º, CC).

52. Não têm direito de remir o imóvel hipotecado, oferecendo o valor da avaliação, até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja publicada a sentença de adjudicação (art.1482 CC).

53. Não têm direito a ser considerado aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade (art.1595 CC).

54. Não têm direito a demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro (art.1641, IV CC).

55. Não têm direito a reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro companheiro ao amante (art.1641, V CC).

56. Não têm direito a garantia da exigência da autorização do outro, para salvaguardar os bens comuns, nas hipóteses previstas no artigo 1647 do CC.

57. Não têm direito a gerir os bens comuns e os do companheiro, nem alienar bens comuns e/ou alienar imóveis comuns e os móveis e imóveis do companheiro, quando este não puder exercer a administração dos bens que lhe incumbe (art.1651 do CC).

58. Não têm direito, caso esteja na posse dos bens particular do companheiro, a ser responsável como depositário, nem usufrutuário (se o rendimento for comum), tampouco procurador (se tiver mandato expresso ou tácito para os administrar) – (art.1652 CC).
59. Não têm direito a escolher o regime de bens que deseja que regule em sua união.

60. Não têm direito a assistência alimentar (art.1694 CC).

61. Não têm direito a instituir parte de bens, por escritura, como bem de família (art.1711 CC).

62. Não têm direito a promover a interdição do companheiro (art.1768, II CC).

63. Não têm direito a isenção de prestação de contas na qualidade de curadora do companheiro (art,1783 CC).

64. Não têm direito de excluir herdeiro legítimo da sua herança por indignidade, na hipótese de tal herdeiro ter sido autor, co-autor ou partícipe de homicídio doloso, ou tentativa deste contra seu companheiro (art.1814, I CC).

65. Não têm direito de excluir um herdeiro legítimo de sua herança por indignidade, na hipótese de tal herdeiro ter incorrido em crime contra a honra de seu companheiro (art.1814, II CC).

66. Não têm direito a Ordem da Vocação Hereditária na sucessão legítima (art.1829 CC).

67. Não têm direito a concorrer a herança com os pais do companheiro, na falta de descendentes destes (1836 CC).

68. Não têm direito ser deferida a sucessão por inteiro ao companheiro sobrevivente, na falta de descendentes e ascendentes do companheiro falecido (art.1838 CC).

69. Não têm direito a ser considerado herdeiro “necessário” do companheiro (art.1845 CC).

70. Não têm direito a remoção/transferê ncia de servidor público sob justificativa da absoluta prioridade do direito à convivência familiar (art.226 e 227 da CF) com companheiro.

71. Não têm direito a transferência obrigatória de seu companheiro estudante, entre universidades, previstas na Lei 8112/90, no caso, ser servidor público federal civil ou militar estudante ou dependente do servidor.

72. Não têm direito a licença para acompanhar companheiro quando for exercer mandato eletivo ou, sendo militar ou servidor da Administração Direta, de autarquia, de empresa pública, de sociedade de economia mista ou de fundação instituída pelo Poder Público, for mandado servir, ex-officio, em outro ponto do território estadual, nacional ou no exterior.

73. Não têm direito a receber os eventuais direitos de férias e outros benefícios do vínculo empregatício se o companheiro falecer.

74. Não têm direito ao DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres, ou por sua Carga, a Pessoas Transportadas ou Não), no caso de morte do companheiro em acidente com veículos.

75. Não têm direito a licença gala, quando o trabalhador for celebrar sua união, podendo deixar de comparecer ao serviço, pelo prazo três dias (art.473, II da CLT) e se professor, período de nove dias (§ 3º., do art. 320 da CLT) .

76. Não têm direito, de oferecer queixa ou de prosseguir na ação penal, caso o companheiro seja o ofendido e morra ou seja declarado ausente (art.100 § 4º CP).

77. Não têm direito as inúmeras previsões criminais que agravam ou aumentam a pena contra os crimes praticados contra o seu companheiro.

78. Não têm direito a isenção de pena no caso do crime contra o patrimônio praticado pelo companheiro (art.181 CP) e nem na hipótese do auxílio a subtrair-se a ação da autoridade policial (art.348 § 2º CP).


TAM

Aos Senhores dirigentes da TAM, 

Prezados,

Fiquei muito surpreso e muito aborrecido de ler a mensagem, publicada nos jornais, da TAM sobre a falta de respeito ocorrida ontem no Rio. Entendo que os senhores queiram impressionar os executivos da Star Alliance, entendo que queiram fazer uma festa de arromba, e disso têm todo o direito. O que não entendo é o desrespeito de realizar uma intensa queima de fogos, extremamente ruidosa, em uma madrugada de quinta-feira. Não, os senhores não têm esse direito. Urca, Botafogo, Leme e Flamengo são bairros majoritariamente residenciais e seus moradores não foram convidados para a festa, nem, pelo menos, avisados de que ocorreria algo que romperia os limites do morro da urca e entraria em cada casa, em cada apartamento. Apartamentos onde dormiam trabalhadores que deveriam despertar algumas horas depois, bem diferente das celebridades e executivos presentes no evento, que provavelmente descansariam no Leblon, Ipanema ou em um bom hotel até mais tarde. Apartamentos que abrigam crianças e idosos que tiveram seu sono interrompido com violência, despertando o medo e a paranóia das grandes cidades, que nos faz imaginar os piores acontecimentos.

Lamento muitíssimo que seja assim que uma empresa celebre seu crescimento. Passarei a torcer então para que os senhores tenham seguidos prejuízos, que com certeza são números mais silenciosos.

Atenciosamente,

Luiz W.B.de Aquino

Grutas do Spar


Grutas do Spar
Upload feito originalmente por Luiz de Aquino
Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

(Platão, A República, v. II p. 105 a 109)

Sol

E não é que me dei mal?
Eu estava planejando realizar hoje a travessia Pau da fome - Camorim, com o Trilhas do Rio de Janeiro, e desisti por conta do mal tempo. Agora estou em casa, olhando o sol pela janela.

Quero fazer ainda esse ano, a travessia Petrópolis-Teresópolis e preciso estar preparado!

A subida do Pico da Pedra Branca me deu uma boa noção do cansaço que é subir cerca de 4h direto. Mas daqui a pouco estarei pronto!


1 ano.

Amanhã completa 1 ano que não atualizo este blog. Eu sempre reflito sobre os motivos e razões que impulsionam minha necessidade de me comunicar e minha necessidade de me calar. Meus instintos por compartilhar e minha vocação para me isolar. Nessa maré de reflexões e do vai-e-volta das vontades, não consigo chegar em outra opinião que a velha vaidade é força motriz dos dois movimentos: necessidade de expor opiniôes e arrebanhar comentários elogiosos ou não e necessidade de "fazer falta" ao minguarem os escritos.

"Será que alguém lerá?" e 'Será que fará falta?

Nesse ano que passou, muita coisa aconteceu. Tudo bem? Tudo bem.

Acordando

Daqueles momento em que acordar é a pior idéia. Ah! Um sonho tão bom, e
você, lutando contra o despertar, se agarra aos fiapos de cor e matéria
que ainda sobrevivem em sua retina onírica. Você sente que seu corpo
envia sinais claros ao seu cérebro, que processa tato, audição e uma
invasão de luz que atravessa as pálpebras. Num suspiro, espasmo de
decisão, você desiste. E se encolhe, amassado entre as dobras dos
grossos panos que o afagam contra o frio. Mais um dia que começa de
fato, do seu ponto de vista. Um punhado de pessoas morrerá hoje, outro
tanto nascerá. Avisos de casamento, notas vermelhas, litígios de
divórcio, vendedores de rede, vernissages. Várias coisas acontecendo, e
você insistindo em hibernar o sono dos preguiçosos. Você esfrega o
rosto com as costas das mãos, em semicírculos agressivos, se senta na
cama e olha ao redor toda a familiariedade dos objetos cotidianos
sedentos de utilidade e uso. Você se permite mais uns minutos de
preguiça, para tentar lembrar do sonho. Como sempre, você não lembra
onde estava. Ruínas. Colunas romanas, grama, azulejos. Roma? Atenas?
Pompéia? Você estava feliz, vibrante e saudável, e parecia saber bem
onde chegar. "Onde" esse que você não faz idéia de onde é. E
provavelmente não vai saber, já que o momento de maior euforia onírica
foi conjuntamente o momento que seu corpo resolveu trazer você de volta
ao círculo da matéria. Será que, perdido nos labirintos da velha
pompéia, entre afrescos e corpos mumificados, o olhar da medusa
congelou seu sonho de disposição e vigor matutino? Vá saber. Você joga
alguns objetos dentro da bolsa, ao mesmo tempo que veste o velho jeans.
Lhe esperam uma maçã e um sanduíche de tofu defumado. Combustível para
um novo dia. Você, teimosamente, irritante e teimosamente, se pergunta
se não prefere voltar pra cama, enquanto desce do elevador e se deixa
absorver pelos ruídos da cidade sempre viva e desperta. O sol sobre seu
bairro litorâneo enche as faces da rotineira esperança de um dia claro
e em paz. O contorno das montanhas do Rio desenha linhas curvas e
gracisosas na janela do ônibus, e você esquece o que sonhou, perde a
divagação naquelas linhas, querendo apenas sobrevoar sobre elas, um
dia, acordado e feliz.

Borboleta - Floresta da Tijuca


Borboleta - Floresta da Tijuca
Upload feito originalmente por Luiz de Aquino
13 de Março, chegaram as águas...

Que vão levar o calor embora... graças a D'us!

Cordel

Nossa literatura de cordel é realmente interessante.

A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA

Miguezim de Princesa


I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

Vivendo e aprendendo a jogar

Trabalhar lidando diretamente com (muitas)pessoas nos ensina coisas que muito graduado em psicologia nem suspeita, sobre o comportamento e re-ações do outro. Dia 08/03 trabalhei no MAM, no que seria o último dia da exposição do Vik Muniz (que na verdade foi prorrogada por mais 2 semanas), com um público estimado de 5mil pessoas a cada fim de semana.

Primeiro eu gosto de observar como as pessoas se comportam de maneira individualista, mas fazendo exatamente o mesmo que todo o restante está a fazer. Como todos compram o mesmo livro, já mantenho dezenas dentro de sacolas individuais para evitar perder muito tempo. A maioria das pessoas quando pede o livro e vê que o mesmo já está embalado faz uma expressão de supresa e um comentário como "nossa, já está prontinho". Ou então eu digo que já tenho embalado e a pessoa pergunta "desse aqui mesmo?"

Acho que as pessoas se recusam a acreditar que fazem parte do rebanho. Que são uma grande massa que repete as mesmas opiniões e atitudes, que repete todo o tempo comportamento/falas/ações arquetípicas, mas se recusa a despir-se da fantasia da individualidade, tão arraigada em nossa educação.

Algumas pessoas me perguntaram, no meio da tarde: "nossa, estã tão cheio, tem ficado o dia todo assim?" Eu não posso responder o que penso, então respondo apenas que sim, mas a verdade é que, apesar do espanto da maioria, fica cheio depois das 15h porque a maioria faz as mesmas coisas nos mesmos horários: almoço de domingo - descanso - programa com a família.

Mas uma senhora me surpreendeu ontem. Pela forma explícita que expôs sua vaidade, sua visão egocêntrica das coisas. Ela veio até mim e perguntou sobre o restaurante do Museu. A despeito de não ser o balcão de informações oficial, estou acostumadíssimo a dar toda sorte de informações turísticas, como é comum em qualquer lugar assim, ou em bancas de jornais, verdadeiros oásis quando se busca uma determinada e mal-sinalizada rua. Mas, voltando à carga: informei que o restaurante só funciona de segunda à sexta, mas que o café estava aberto. Ao ouvir isso, ela me respondeu

"Mas eu já vi gente entrando lá aos sábados. Tem alguém que possa me dar uma informação melhor?"

Eu apenas sorri. Sem responder, e ela se afastou. Eu não tinha o que dizer, mesmo. Eu estava ali, compadecido da angústia que havia provocado. Aquela senhora estava indignada, pois não ouviu a resposta que desejava ouvir, e isso a angustiava. Ela foi até lá, na esperança de ouvir uma resposta "melhor".

Quantas vezes não nos flagramos assim, angustiados pela simples razão do mundo não ser daquele jeito? Poucas. Bem poucas. Na maioria das vezes, encaramos nossa indignação como legítima e, se houver espaço, até fazemos alguma birra pelo mundo não girar em torno dos nossos umbigos.

Nossa pretensão por exclusividade, por ver o filme que ninguém viu, conhecer o "lugarzinho" (falar de lugarzinhos rende...) que ninguém conhece, assistir aquele show que nem-foi divulgado e outras bobagens do gênero é tão grande que sofremos ao nos perceber apenas mais um, apenas um número entre milhões. Nossa vontade de ser únicos resvala na verdade de que quando todos são especiais, ninguém é.

inspire-me

ó Deusa, inspire-me.

Tanta coisa. Eu vejo coisas acontecerem, penso em notícia. Vejo imagens, penso em fotos. Leio relatos que me deixam estupefatos. Mas quando não tenho inspiração, nada disso sai do mundinho das idéias. Nadinha sai.


E assim meu mundo (não) gira.

Não cumpro prazos.

Não telefono.

Não vou ao médido.

Esqueço dos remédios.

Não como direito.

Não faço exercícios.

Não.

Eu não presto.

Nem pra mim.

Mas, ainda assim, recebo sorrisos.

Obrigado.

..

vá entender.

Novembro. Março.

Incrível.

Paciência. Talento. Tinta. Em doses cavalares. Resultado:


MUTO a wall-painted animation by BLU from blu on Vimeo.

Madame Tussaud

Tudo bem, é uma pergunta difícil, mas... vâmucombinar, acho que o sistema dele travou:




A apresentadora Paola perego pergunta: "E sobre as crianças, o que o futuro reserva para elas e o que o senhor deseja para as crianças de hoje?", e o ex-senador Andreotti... ... ... deve estar assim até agora.